Projetos que podem mudar o modelo eleitoral estão
engavetados há anos no Congresso porque os principais partidos do país não
chegam a um consenso
O plebiscito oportunista proposto pelo governo para
realizar a reforma política neste ano dificilmente sobreviverá. O que pouco se
discute, porém, em relação a essa tentativa rasteira do PT e do Palácio do
Planalto, é que projetos para mudar o modelo eleitoral brasileiro estão parados
no Congresso há anos. A dificuldade em fazer o tema avançar no Legislativo vai
além da inoperância dos articuladores políticos de Dilma Rousseff: os
principais partidos do país têm posições (e interesses) distintos na reforma
política.
Não é exagero afirmar que cada partido tem sua
própria versão da reforma política ideal. O PT, por exemplo, que detém a maior
bancada de deputados federais do país, insiste na ideia bolivariana de convocar
uma Constituinte exclusiva para tratar do assunto e tentar mudar as regras
eleitorais já em 2014 – ainda que isso atropele princípios constitucionais.
Nesse caso, a manobra visa aprovar antigos sonhos da sigla, como o
financiamento público de campanha e a institucionalização do voto de cabresto
(voto em lista fechada).
“Nunca houve um debate no Brasil sobre os pontos da
reforma política. Agora vai ser no convencimento. A população há de ser
convencida da tese de cada partido, mas essa mesma população, a rigor, não
domina com profundidade cada um dos temas da reforma política”, admite o líder
do PT no Senado, Wellington Dias (PT-PI). “O PT não quer ficar isolado e já
estamos debatendo nossas ideias com outros partidos”, completa.
O PMDB, a segunda maior bancada na Câmara, tem
outras pretensões. Com capilaridade nos rincões do país, a legenda que mais
elegeu prefeitos em 2012 – foram 1.024 prefeituras das 5.568 disputadas –
defende a adoção do chamado “distritão”, sistema que promoveria a eleição dos
candidatos a deputado mais votados em seus estados, independentemente das
siglas pelas quais concorreram. O modelo, entretanto, tem o grave risco de
institucionalizar o “sistema eleitoral Tiririca” – deputado que, por ter obtido
cerca de 1,3 milhão de votos, acabou elegendo também outros parlamentares.
O “distritão” substituiria o sistema proporcional
com coligação, que leva em conta o quociente eleitoral (divisão do número de
votos pelo número de vagas do estado na Câmara), e poderia provocar no
Congresso a ascensão de diversos “Tiriricas” ou puxadores de voto que não
necessariamente tenham afinidade ou interesse em um mandato político.
O “distritão” favorece os grandes partidos, que têm
boa inserção nos grotões e são conhecidos até pelo eleitor menos politizado.
Levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
aponta que, com base nas eleições proporcionais para a Câmara dos Deputados em
2010, PT, PMDB, PP e DEM poderiam ter bancadas maiores do que as que
conseguiram eleger se a regra do “distritão” já estivesse em vigor.
Com uma crise deflagrada em sua base no Congresso,
tudo indica que a presidente Dilma Rousseff dificilmente conseguirá salvar seu
plebiscito improvisado para mudar as regras do jogo em 2014. Mas o debate sobre
a necessidade de uma reforma política no Brasil seguirá em pauta, legislatura
após legislatura. “O governo está completamente amador nas discussões sobre
reforma política”, avalia o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg
(PSB-DF). “Precisamos dar uma resposta concreta e real para a sociedade, e não
uma resposta com uma consulta popular feita às pressas”, diz o líder do PTB na
Câmara, Jovair Arantes (PTB-GO).
Financiamento público de campanha: Os petistas
pretendem encampar a proposta de que pessoas e empresas possam fazer doações de
campanha para um fundo, sem escolher destinatários. Depois, o bolo de recursos
é repartido segundo a votação que os partidos tiveram na eleição anterior. Se
consolidada nas eleições de 2014, por exemplo, a medida beneficiaria
diretamente o PT e garantiria 67,59% dos recursos ao caixa petista.
Voto em lista fechada: O partido defende a adoção
do voto em lista fechada para o Legislativo. O sistema impõe que o eleitor vote
não no candidato, mas na legenda, que define previamente qual cacique estará no
topo da lista de preferências.
Reforma política já em 2014: A sigla quer que as
novas regras eleitorais possam valer já em 2014. Porém, o artigo 16 da
Constituição prevê que leis que alterarem o processo eleitoral não podem ser
aplicadas na eleição que ocorra no período de menos de um ano. O Supremo
Tribunal Federal (STF) considera que este ponto é uma cláusula pétrea, pois
preserva o direito individual do eleitor, além de blindar o processo eleitoral
de influências casuísticas.
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